Delírio- parte I
Numa rede na varanda de casa. Aquela brisa geladinha de fim de tarde, pensamento da vida até ali tinha gosto de saudade. Estava agitada demais para uma pessoa da minha idade. Precisava ficar silenciosa um tempo maior para curar o mal que o moreno bonito tinha me causado mês passado. Coisa pequena, eu que fantasiei demais. Negócio que não era mais uma moça de 14 anos. Agora um fora fazia pensar ''será que vou morrer sozinha?''. Mexia meus cabelos como se fosse cafuné de outra mão. Sentia que precisava de alguém mas alguém só iria confundir agora. Melhor não, ficar só não mata, ficar só pode matar. Pensava tudo junto, ao mesmo tempo, embaralhado. Umas músicas suaves e melancólicas brotavam na minha cabeça. Umas de desejo, umas de fossa, umas de deixa-pra-lá-que-é-melhor. Sinal sonoro no celular. Grupo da Saidinha do FDS me chamava pra sair da toca. Tentei inventar mais desculpas mas a verdade é que achei que a carência poderia diminuir só por estar na presença de amigos. Carência de gente. Concordei em reunir forças e sair do fundo daquela rede. Precisava levantar nem que fosse para ligar a luz da sala, porque a do Sol estava indo embora com ele.
Era banda de fora. Estava lotando rápido. Barulho, cigarro, não deveria ter vindo. Por que eu sai de casa? Por que ainda me arrumo? Ninguém vai me notar. Não há ninguém para eu notar também. Todo mundo comprometido, todo mundo cafajeste, todo mundo gay, todo mundo com todo mundo. Meus ouvidos não estavam mais acostumados com vida noturna. Quanto a visão... mais cansada dos mesmos tipos? Impossível. Um amigo veio de surpresa. Sumido há 2 meses por trabalhar fora, estava no grupo por consideração. Viu o encontro e levou o sócio.
Um homem preto com olhar terno e sorriso reverberante. Luzes indicavam a presença daquele ser; todos o notavam. Sua voz rouca atraída toda a minha atenção. Passaria por louca caso pedisse que me gravasse seu timbre encantador numa espécie de caixinha de música com bailarina? Que fosse, pois estava prestes a pedir isso. Meu olhar atingiu todo seu corpo e espírito, prestei atenção em cada palavra e gesto. Esqueça cada desgosto que disse ter mais cedo. Hoje eu vi um anjo em carne, osso e sangue. Especialmente dentre suas coxas, pelo que notei. Se para todas os braços daquele negro diziam sobre pesos na academia, para mim recordava o membro mais excitado que me lembrava com aquelas veias saltadas sem fazer esforço algum.